quinta-feira, 30 de abril de 2020

Brown Eyed Girls - Sixth Sense

eu vi esse vídeo pela primeira vez, fiquei com a pulga atrás da orelha. Eu realmente achei que poderia ser uma indireta à situação na Coréia do Norte. Eu não faço idéia se estou certa (até porque na análise que encontrei no fan-site da girlband, não tem nada falando sobre a guerra), mas eu acho realmente interessante essa idéia. Essas girlbands tem uma fama de serem superficiais por toda a imagem perfeita que possuem. A letra me faz pensar mais ainda. Óbvio que você pode pegar a letra como dois amantes ou algo assim. Mas, creio eu, faz um pouco mais de sentido se tentar ler a letra meio como a Coréia do Sul falando com a Coréia do Norte. Repare um trecho que peguei de um fan-site brasileiro da Brown Eyed Girls:

Apenas me siga enquanto eu te escolto
(Novo Mundo) Olhe para isto se você não acha que irá experienciar algo mais obscuro
(Me siga) uh (Diga meu nome) um pouco mais alto
Você não vai me esquecer, cante pra mim querido
(Me siga) está certo (diga meu nome) gracias
Consegue seguir?
Você não será capaz de esquecer isto depois de ouvir
Outra música vai se tornar entediante
(Levante os braços!) Pare e atire!


Fonte da tradução: Just BEG


Temos o portão negro com as paredes brancas, e asas imensas e negras - de uma gárgula? Evidentemente um imponente palácio, pertencente à uma pessoa rica ou algo assim. Temos uma câmera de vigilância - já temos, aqui, o conceito de observação, vigilância constante 24h que é repetido no vídeo todo. E então temos as quatro integrantes do grupo, cada uma representando algo diferente. De acordo com a liricista Kim (que colaborou na música), há vários conceitos que ela explica muito bem. Primeiro ela nos lembra que a história do vídeo não é linear, seguindo uma ordem de sequências. Cada garota representa algo diferente e não é necessariamente antes, durante ou depois dos eventos. De acordo com ela, a Jeaestá presa nos galhos, representa o sacrifício. A Miryo é a "reveladora das mensagens", sendo a rapper principal - tem os microfones enfileirados diante dela. A Narsha incorpora o sexto sentido em si, sendo a parte animalesca (sua roupa de oncinha esclarece bem isso), e a Ga-In, acorrentada na cadeira, representa resistência.

Então, nessa análise, estou pegando muito dos significados que a Kim nos deu para montar a minha própria interpretação, tendo o contexto político em mente.



Pensando na guerra real, é fácil associar os soldados da tropa de choque e o ditador que aparece mascarado em alguns frames como o ditador da Coréia do Norte ou como uma representação física do "Absoluto" (como Kim chama), da mentalidade de prisão, censura, vigilância total. Ele é o chefe. Seu símbolo é uma estrela de seis pontas, sendo uma delas vermelha. Usa uma máscara dourada - mentira, farsa, alienação. Temos os jornais colocados e pichados, tendo palavras e frases como BREAK OUR HEARTS, YOU HAVE A VOICE, THE SUN (alusão ao tablóide britânico?), FEEL WATCH PLUS, I REMEMBER SPELLING OUT OUR / OWN PRIVATE RESISTANCE, SIXTH SENSE, IN A WORLD MEANT TO BREAK. Temos o pano vermelho atrás do ditador, sendo a cor predominante da tropa de choque e do ditador que aqui chamaremos de Absoluto.

De um lado, as tropas de choque uniformizadas, enfileiradas, organizadas, tendo os holofotes e o símbolo. Do outro, temos as garotas com vários rapazes em volta, de queixo erguido, com jornais: um muro de palavras atrás deles. É a arma deles, é o que elas tem para se defenderem. A tropa de choque avança contra pessoas desarmadas - e isso é obviamente uma constatação óbvia do quão covarde um regime militarista e ditadorial é. As garotas não estão armadas, elas só tem a música. Mesmo assim uma tropa inteira de homens vai pra cima delas. Mas elas só começam a cantar quando mostra a Ga-In, acorrentada na cadeira, tendo uma câmera diante dela, a registrando. De acordo com a liricista Kim, Ga-In possui uma história anterior: ela usa a jaqueta militar do amante dela que morreu, e acaba sendo acusada de traição e subversão, sendo, então, presa, humilhada, torturada e abusada. Ela está assustada, mas diz que não é submissa. Nunca foi, nem será - e a mesma artista diz isso diante das tropas. Podemos notar sua força não se rebaixando a nenhuma forma de prisão.



A foto acima é do exército norte-coreano.

Em seguida, é a Narsha que se comporta como uma fera selvagem. Ela "foi dirigida para agir o mais selvagem possivel para o video", diz Kim, e isso é visível: com sua roupa de oncinha, unhas lixadas como mini-garras, o cabelo desfiado e castanho-meio-loiro, a maquiagem que lembra um felino. Depois da Narsha, temos a Jea presa nos galhos. Vagamente todos os galhos e tudo o mais, vistos de cima, me lembraram a coroa de espinhos que Jesus usa na crucificação e tudo o mais e isso combina com o que Kim disse, sobre Jea representar o sacrifício em si. Ela diz também que, diante das tropas de choque, Jea significa a música, sendo a líder, a que representa a vontade da música se rebelar. Jea, aponta Kim, é a única que não se rebela diretamente como Narsha, Ga-In ou Miryo fazem. Isso diz algo sobre a personagem de Jea dentro desse vídeo.

Nessa parte, cantam que "a música ocupará o vazio entre nós dois". Seria como se elas falassem que a música ajudará na aproximação entre as duas Coréias? Isso não seria de todo estranho, porque quem sabe um pouco de história entende que a arte, de modo geral, tem importância nas revoluções. Livros, músicas, peças de teatro - tudo é escape de uma situação, forma de expressar desagrado, revolta e/ou insubordinação a algo. Música também pode ser política, e talvez seja disso que as garotas falem. De se aproximar da outra Coréia - que não sei como elas vêem essa situação, mas eu imagino que seria como países irmãos e separados pelas brigas. Mas mesmo assim um irmão - ou irmã. Se eu fosse desenhar uma história que países seriam pessoas, eu colocaria as Coréias como duas garotas irmãs. Depois vem uma parte da música que eu gosto: "mais do que um sentimento, uma sensação de tirar o fôlego". Qualquer um interpreta isso como uma garota falando ao seu amante de como o enlouquecerá e o tirará do sério. Mas eu, sempre viajando na maionese, não acho que seja amor ou paixão ou tesão ou qualquer coisa que venha de um casal, e sim de liberdade.

Para um povo que vive preso, manipulado, acorrentado ao que o governo diz em um regime que não pode fugir, liberdade é simplesmente embriagante. Não é simplesmente algo pra sentir (a despeito da clássica frase de Clarice Lispector que diz que "liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome"), é algo além, indescrítivel, de "tirar o fôlego". Nesse contexto, a música e tudo o que eu estou pensando cai muito bem. Mais tarde, elas dizem que "esse sentimento que pretendo compartilhar transcede os limites da emoção". Mais uma vez, penso em liberdade, mais uma vez eu penso nos sul-coreanos dizendo isso aos norte-coreanos. Penso nelas falando não com namorados, mas com todo um povo - apresentando algo à eles, dividindo algo melhor do qualquer coisa e, para isso - e para isso serve o vídeo - tendo que se rebelar contra o sistema.

Nesse ponto do vídeo, as coisas estão simplesmente ficando tensas. As correntes de Ga-In são mais focadas e podemos perceber que Jea não está exatamente tranquila presa nos galhos, com toda a água, parecendo que vai se afogar. O vídeo está chegando ao que eu chamo de clímax. Há uma pequeninha parte que eu gosto, que é a de um gato preto andando no muro e depois saltando. Eu não consigo achar muita coisa sobre o que o gato significa na Coréia do Sul, mas eu achei um texto pequeno aqui que fala que o gato era venerado pelos budistas pelo auto-domínio e meditação pelos primeiros budistas (budismo é uma religião predominante na Coréia do Sul, apesar do número de cristãos estar crescendo). Em um blog, eu achei um texto que fala sobre significados em brasões e diz que gatos geralmente significam liberdade, vigilância e coragem (e todos os conceitos batem com o do vídeo, mas é um blog ocidental, logo...).




Vamos interpretar dessa forma e prosseguir. Repare que o gato pula o muro e do muro dá pra ver um pedaço da casa: ele está no ambiente da Miryo, a dos microfones. Mas depois Ga-In canta para os soldados pedindo para "beijá-la ao estilo francês" que significa, basicamente, de língua. Narsha aparece novamente, com mais destaque: dentro desse quarto em tons quentes, deitada na areia onde dança sensualmente, rodeada de coisas que parecem mini-televisões. Eles emitem flashes, o que, de acordo com a Kim, é pra dar mais ênfase à questão de estar sendo observada sem descanso. Narsha é felina, sabe que está sendo vigiada e parece, por um momento, até gostar disso. Ela é o sexto sentido encarnado.

E então, logo depois de uma visão de Jea aprisionada sendo puxada para baixo pela chuva, lago, galhos e tudo o mais, temos a seguinte frase entoada "no sonho, cujo o qual você guarda segredos... eu sou capaz de adentrá-los inconscientemente" e é bem nessa parte que um soldado da tropa ergue um pouco do seu capacete. As garotas tinham - lembrem-se - só as palavras ao favor delas. Elas não são como os governos das Coréias que tem mísseis e direto um míssel "cai" no terreno do outro. Elas são o povo, que não vai ter como se defender caso aconteça uma guerra. Elas tem a música e música é uma mensagem inconsciente. Politicamente e viajadamente na maionese falando, é a Coréia do Sul tendo sua mensagem ouvida na Coréia do Norte - e realmente fez estremecer a estrutura. O soldado ergue seu capacete, isso já faz com que ele abaixe a arma e ouça mais. E então temos a proposta de um novo mundo e a Miryo, diante dos microfones, acorrentada pelos pulsos e é interessante observar que cada corrente é atrelada a um leão de pedra - leão significa poder em qualquer lugar do mundo, devido a toda sua majestade. O leão é a autoridade a que ela está presa, e os microfones significam que ela tem que dizer algo. Não pode simplesmente ficar calada. Miryo tem o papel de rapper do grupo, então ela tem destaque nessa parte: está convidando alguém a começar um novo mundo, está sendo direta, quase autoritária. Ela é imperativa. "Cante pra mim, querido! Um pouco mais alto! Está melhor assim! Siga-me! Gracias!" em tom de ordem dão o tom da música. Não é só um convite, é quase uma exigência. No instante que ela diz que as "demais canções serão entediantes" e pede fogo, é o instante que ela se liberta - do poder, da autoridade, de tudo.



Ela está agindo por conta própria em nome do ideal dela. Ela atira (diante das tropas de choque), então, a máscara dourada do ditador e esse é o momento que a rebelião realmente começa. Os soldados começam a tirar as máscaras e se despir das armas, debaixo da chuva. A água tem um fator importante. Dentro do budismo, água significa pureza, serenidade, clareza. A água tem o significado de "limpar" não só as sujeiras materiais, como as imateriais - e isso se ajusta perfeitamente dentro do vídeo. A chuva é o momento que os soldados percebem o quão iludidos e enganados foram. É o momento da quebra total: Narsha chuta os microfones, Ga-In consegue fugir, Narsha joga uma mini-televisão pro lado, Jea parece (novamente) que está se afogando de vez, há mais gente dançando com as garotas e todos estão alvoroçados, sendo atingidos com enormes jatos de água, percebendo toda a trama de um ditador por trás e experimentando essa coisa que é além do sentimento, algo que nunca sentiram antes. A máscara dourada no chão representa a queda do ditador, porém...



... aparentemente era tudo uma fantasia. Tudo como um sonho, um desejo das garotas. A última cena é simplesmente a tropa de choque indo pra cima das garotas e acaba aí. Não sabemos, mas a mensagem fica embutida de que elas perderam, no fim das contas. Assim como a guerra: ela está acontecendo e não haverá vencedores se continuar desde jeito, normalmente estável, mas sempre com tensão no ar, desejos nunca completados, no fim das contas.

No fundo, Sixth Sense é sobre liberdade e revolução.


*** Não tem menção ao diretor ou diretora. Isso é porque eu não consegui descobrir quem dirigiu o vídeo.

domingo, 25 de novembro de 2018

Unpretty Rapstar Legendado - Links


Primeira temporada: 8 episódios


Segunda temporada: 10 episódios



Terceira temporada: 10 episódios

(recomendado assistir o spin off após o EP02)


As legendas da terceira temporada foram mal traduzidas, dá pra entender o que ta acontecendo, mas as letras das músicas estão cheias de erros, no nosso canal tem algumas apresentações com tradução melhorada:
https://www.youtube.com/channel/UCpEU-5T1JmUY4RJ7R8C4BoQ/videos


 Spin off da Terceira Temporada: 4 episódios


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Rainbow Blaxx - Cha Cha



Rainbow lançou a subunit Rainbow Blaxx com um conceito bem diferente do grupo. O MV segue uma linha de lógica entre o sensual e com um lado crítico, que são mostrados de forma indireta durante o decorrer do doce e sexy vídeo da canção "Cha Cha".


domingo, 21 de dezembro de 2014

 
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